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GRUPO SANTO ANSELMO
Fides Quaerens Intellectum

Leitura das Sagradas Escrituras – Breves Comentários a Êxodo 7-15

A Vocação de Moisés e a Saída do Egito

Moisés que há muito tempo fugira do Egito, estava totalmente acomodado na terra de Madiã. Não gozava mais dos bens e favores da vida no palácio, mas também não era obrigado a viver como escravo como os seus irmãos.

Deus então chama Moisés para o fim de libertar o povo hebreu da escravidão egípcia e levá-lo à terra de Canaã (3, 1-6). Esse chamado se dá por meio de uma teofania na forma de um arbusto que queima, mas não se consome.

A ordem de Deus é clara, no sentido de Moisés dever se dirigir ao Faraó e ordenar a libertação do povo hebreu, para que possam servir a Deus e tornar a Canaã. Moisés reluta, mas o chamado é forte e determinante (3, 7-12).

1. O nome divino e a partida de Moisés para o Egito

A questão do nome divino é parte integrante da teofania e está profundamente enriquecida de saber teológico. Moisés irá diante de um monarca de um dos maiores países do mundo em seu tempo, ordenando que esse monarca liberte o seu povo que vive ali em regime de escravidão. A pergunta é óbvia: Por ordem de quem o Faraó soltaria o povo? Logo, Moisés precisava saber qual era o nome daquele que se identificava como “O Deus de Abraão, Isaac e Jacob” (2, 3).

Deus responde a Moisés se identificando com “Eu Sou!” Exatamente esse é o nome, Eu Sou, porque Deus se identifica como o Todo-poderoso, aquele que é, que sempre existiu e que existirá para sempre, sem sombra e sem variação, completo e perfeito em si mesmo, aquele que existe a partir de si mesmo e por meio do qual tudo o que existe veio a existir (3 ,13-15).

Deus então instrui a Moisés acerca de sua missão e já o adverte que ele encontrará oposição do soberano do Egito, razão pela qual haverá um conflito de grandes proporções (3, 16-20).

Moisés alega para a sua dificuldade com palavras, reluta severamente e pede que Deus escolha outro. Por fim, Deus ordena que Moisés parta e que tome Arão seu irmão como auxiliar para falar ao Faraó (4, 10-23). Enquanto isso, Deus ordena a Arão que atue ao lado de Moisés como seu auxiliar e que vá ao seu encontro (4, 27-30).

No retorno de Moisés ao Egito existe um texto enigmático, quando segundo o texto bíblico em uma hospedaria Deus aparece procurando matar Moisés. Séfora então toma uma faca e corta o prepúcio do seu filho e diz a Moisés: “Me és um esposo sanguinário” e Deus o deixou. Esse relato enigmático deve ser interpretado do mesmo modo que se interpreta o texto da passagem de Jacob pelo vau do riacho Jaboque (Gn 32, 23-33). A expressão que Deus queria matar Moisés somente faz sentido se interpretada como uma luta espiritual, uma catarse de transformação de um homem velho em um homem novo, uma conversão. A circuncisão realizada no filho de Moisés mostra a sua adequação ao pacto que Deus fez com Abraão (Gn 17) e o protagonismo da Séfora, a esposa, mostra a participação dessa mulher, participação positiva, no episódio[1].

2. Primeira entrevista de Moisés e Faraó

Como era de se esperar, o Faraó não dá ouvidos a Moisés, não reconhecendo a autoridade do Deus de Abraão, Isaac e Jacob, e muito menos a autoridade de Moisés (5, 1-5).

Pelo contrário, o Faraó reestruturou o trabalho dos escravos hebreus, tornando-o mais pesado. Os escravos deveriam fazer uma certa quantidade de tijolos por dia, sendo que a palha que é misturada ao barro lhes era fornecida. O Faraó exige que eles providenciem a palha e mantenham a produtividade, o que torna o trabalho muito mais oneroso (5, 6-14).

Tal situação vai por óbvio gerar reclamações (5, 15-18) e agora essa dificuldade será imputada a Moisés e Arão, pois eles vieram com promessa de liberdade, mas o resultado inicial foi o agravamento da escravidão (5, 19-21).

2.1. Renovação da vocação de Moisés

Diante do endurecimento do Faraó, Deus ordena a Moisés que endureça ele também o discurso, pois a negativa do Faraó fará com que Deus venha com pragas e sinais sobre o Egito (7, 1-6).

3. As pragas do Egito

A segunda entrevista entre Moisés e o Faraó novamente se torna infrutífera. O sinal milagroso feito por Araão, que lança sua vara no chão e ela se transforma em cobra não encanta o Faraó, pois os seus magos repetem a façanha. No entanto, nem mesmo o fato de a serpente criada a partir da vara de Arão devorar as outras serpentes, criadas a partir da vara dos magos, comoveu o Faraó (7, 3-13).

A partir de então, Deus ordena a Moisés que lance sobre o Egito um conjunto de pragas, sendo que a cada praga lançada, Moisés comparece diante do Faraó e exige a libertação do povo. As pragas constituem um instrumento de persuasão contra o Faraó.

3.1. As águas transformadas em sangue

A primeira praga foi a contaminação dos rios do Egito, pois quando Moisés tocou com sua vara no Nilo, todo o rio se tornou em sangue, e os egípcios tiveram de cavar poços, porque todos os rios e fontes se tornaram em sangue. Mas como os magos de Faraó conseguiram repetir a façanha, ele endureceu o seu coração e não libertou o povo (7, 14-25).

3.2. As rãs

Por ordem de Deus, mais uma vez Moisés pede ao Faraó que liberte o povo. Diante da negativa, vem a segunda praga que é uma invasão de rãs que saem dos rios, lagos e fontes do Egito e se espalham pelas cidades e pelas casas e infestam todo o Egito (7, 26-2. 8, 1-3).

Moisés vai a Faraó e este lhe pede um dia para libertar o povo. Diante disso, Moisés pede a Deus e a praga das rãs é cessada. Mas o Faraó diante do alívio, endurece o coração e nega a saída do povo (8, 4-10).

3.3. Os mosquitos

Deus falou a Moisés que mandasse Arão ferir com sua vara o pó da terra e assim foi feito. O pó se converteu em moscas que entraram em todas as casas do Egito e nem assim o Faraó admitiu a saída do povo de Israel (8, 12-15).

3.4. As moscas

Mais uma vez Moisés foi ao Faraó e exigiu a saída do povo, sob pena de uma praga de moscas. Diante da negativa, enxames de moscas invadiram o Egito, suas casas, fazendas e em todos os lugares (8, 16-21).

Moisés volta a Faraó que promete libertar o povo para cultuar ao seu Deus. Moisés então roga a Deus e a praga das moscas cessa de uma vez,  porém, diante do alívio, o Faraó nega a libertação do povo (8, 21-28).

3.5. A pestes dos animais

Mais uma vez Moisés ameaça o Faraó com uma praga que atingirá os animais dos egípcios, causando a sua morte, sem, porém, atingir o rebanho de Israel. E assim foi feito, mas o Faraó endureceu o seu coração e não deixou o povo partir (9, 1-7).

3.6. As úlceras

Deus ordenou a Moisés que lançasse as suas mãos cheias de cinzas e o pó das cinzas provou úlceras que atingiram as pessoas do Egito, sem, no entanto, atingir o povo de Israel, e ainda assim, o Faraó não permitiu a saída do povo de Israel (9, 8-12).

3.7. A chuva de pedras

Deus então mandou Moisés ir a Faraó dizendo para libertar o povo, sob pena de uma chuva de pedras e fogo sobre o Egito. Diante da negativa de Faraó, Deus fez chover sobre o Egito pedras e fogo, poupando, no entanto, a terra de Gosen onde viviam os israelitas (9, 13-26).

O Faraó então chamou Moisés e pediu clemência, admitindo que permitiria ao povo partir. Moisés então rogou a Deus e a chuva de pedras cessou, mas o Faraó, diante do alívio, mais uma vez negou ao povo a sua liberdade (9, 27-35).

3.8. Os gafanhotos

Moisés torna ao Faraó e pede a libertação do povo sob pena de uma praga de gafanhotos. Diante da negativa de Faraó, Moisés então lança a praga e enxames gigantescos de gafanhotos cobrem a terra do Egito, preservando a terra de Gósen, onde está o povo de Israel. O Faraó então pede clemência e Moisés pede a Deus que cesse a praga. Uma vez cessando a praga, mais uma vez o Faraó nega a saída do povo (10, 1-20).

3.9. As trevas

A praga seguinte foram as trevas que se abateram sobre toda a terra do Egito por três dias inteiros. O Faraó então chamou Moisés e prometeu libertar o povo caso as trevas passassem. Mas mais uma vez ele negou a saída do povo de Israel (10, 21-29).

3.10. A morte dos primogênitos

A última praga é a morte dos primogênitos, mas como essa praga acontecerá na véspera da saída do povo de Israel do Egito, e por conta dessa saída será instituída a festa da Páscoa, a aplicação da Praga da Morte dos Primogênitos acaba por ser envolvida com a Páscoa.

Por essa razão, o autor faz o anúncio da morte dos primogênitos (11, 1-9), para então passar à instituição da Páscoa (12, 1-28) e então voltar à aplicação da praga propriamente no texto de 12, 29-34).

Deus cumpriu a décima praga e no meio da noite e feriu todos os primogênitos do Egito (12, 29). O Faraó então diante do sofrimento causado pela morte dos primogênitos, inclusive o seu próprio, e determinou naquela mesma noite a saída de todos os israelitas do Egito, inclusive os seus bens e rebanhos (12, 30).

4. A Páscoa e a salvação dos primogênitos dos israelitas

Deus determina a Moisés a instituição da Páscoa, da festa dos pães ázimos e orienta o povo quanto as regras da Pascoa.

A Páscoa é instituída juntamente com a décima praga, realizando também uma alteração no calendário, marcando aquele mês como o primeiro mês do ano. O centro dessa festa é a imolação do cordeiro pascal, escolhido dentre o rebanho, com um ano de idade, sem mancha e sem defeito, separado desde o dia dez e imolado no décimo quinto dia.

O sangue do cordeiro será passado nos umbrais da casa e o cordeiro será comigo assado e o resto será queimado no fogo, também se comerão pães ázimos e ervas amargas. Naquele mesmo dia fizeram tal qual Moisés ordenou e quando o anjo passou para ferir os primogênitos, a casa cujos umbrais estavam marcados com o sangue do cordeiro pascal era poupada (12, 1-14).

5. A partida de Israel da terra do Egito

A saída do Egito foi uma epopeia gigantesca, pois o texto diz que saíram do Egito um multidão de 600.000 mil homens a pé, sem contar mulheres e crianças, com todos os seus bens, carroças, ovelhas, bois e jumentos. Comeram pães ázimos, pois não tiveram tempo para esperar a massa levedar. Encerrava-se um período de 430 anos desde a chegada da família de Jacob no Egito.

A Páscoa instituída por Deus, por meio de Moisés, é obrigatória para todo o povo de Israel no décimo quinto dia do primeiro mês do ano, que passou a ser aquele da saída do Egito. Dela deve comer todo israelita, seus escravos comprados, pois esses fazem parte do povo. O estrangeiro dela não comerá, mesmo habitando no meio do povo de Israel, a menos que aceite ser circuncidado, podendo aí comer a Páscoa (12, 43-51).

Na saída do Egito para a terra de Canaã, o caminho mais lógico seria margear o Mediterrâneo, passando pela Filistia e chegar a Canaã. Mas o texto bíblico afirma que é possível que uma resistência armada dos filisteus desestimulasse o povo, razão pela qual Deus fez Moisés tomar um caminho mais distante, o caminho do mar dos juncos, acampando perto de Etam. Esse caminho permite inferir com razoável certeza que em lugar de tomar o sentido nordeste, os israelitas tomaram o um sul-sudeste, indo para península do Sinai[2] (13, 17-18).

Moisés levou consigo um sarcófago, contendo o corpo de José, conforme ele havia pedido há mais de 430 anos (Gn 50, 24).

E o povo de Deus no deserto andava… Durante o dia uma nuvem os guiava e de noite uma coluna de fogo (13, 21-22).

O período de escravidão agora é passado. O povo de Israel, descendente de Abraão, Isaac e Jacob, uma grande nação, deixa o Egito e entra no deserta para uma grande aventura.

As dificuldades e o sofrimento da escravidão dão lugar às dificuldades e o sofrimento no deserto. Antes, era a esperança de um Deus que os libertaria do Egito; enquanto agora, é a esperança de um Deus que os protegerá das intempéries do deserto.

6. A Saída do Egito, a Perseguição Egípcia e a Passagem pelo Mar Vermelho

A partir dos capítulos 13, 17-21 lemos a notícia do povo de Israel saindo do Egito sob a liderança de Moisés.

A saída do Egito foi uma epopeia gigantesca, pois o texto diz que saíram do Egito uma multidão de 600.000 mil homens a pé, sem contar mulheres e crianças, com todos os seus bens, carroças, ovelhas, bois e jumentos. Comeram pães ázimos, pois não tiveram tempo para esperar a massa levedar. Encerrava-se um período de 430 anos desde a chegada da família de Jacob no Egito.

A Páscoa instituída por Deus, por meio de Moisés, é obrigatória para todo o povo de Israel no décimo quinto dia do primeiro mês do ano, que passou a ser aquele da saída do Egito. Dela deve comer todo israelita, seus escravos comprados, pois esses fazem parte do povo. O estrangeiro dela não comerá, mesmo habitando no meio do povo de Israel, a menos que aceite ser circuncidado, podendo aí comer a Páscoa (12, 43-51).

Na saída do Egito para a terra de Canaã, o caminho mais lógico seria margear o Mediterrâneo, passando pela Filistia e chegar a Canaã. Mas o texto bíblico afirma que é possível que uma resistência armada dos filisteus desestimulasse o povo, razão pela qual Deus fez Moisés tomar um caminho mais distante, o caminho do mar dos juncos, acampando perto de Etam. Esse caminho permite inferir com razoável certeza que em lugar de tomar o sentido nordeste, os israelitas tomaram o um sul-sudeste, indo para península do Sinai[3] (13, 17-18).

Moisés levou consigo um sarcófago, contendo o corpo de José, conforme ele havia pedido há mais de 430 anos (Gn 50, 24).

E o povo de Deus no deserto andava… Durante o dia uma nuvem os guiava e de noite uma coluna de fogo (13, 21-22).

6.1. A perseguição egípcia

Todavia, logo após a saída do Egito, o Faraó se arrepende da liberalidade concedida, e, enfurecido, envia uma tropa de soldados para perseguir o povo de Israel. A tropa era gigantesca e após dias de caminhada, os soldados egípcios se aproximam do povo em viagem. Como estão em um deserto, foi possível ver ao longe a poeira dos carros e animais egípcios (14, 5-10).

Imediatamente o povo procurou Moisés e começou a reclamar, sugerindo que melhor seria terem morrido no Egito, pois lá, embora fossem escravos, pelos menos não seriam mortos (14, 10-12). Moisés com uma grande confiança em Deus, pede ao povo que se acalme (14, 13-14).

6.2. A passagem pelo Mar Vermelho e o canto de vitória

O povo estava acampado em um lugar chamado Baal Sefon. Diante dele o Mar Vermelho, e atrás dele o exército do Faraó. Moisés pede a Deus uma providência e a ordem de Deus é clara: “Por que clama a mim? Mande o povo marchar, e você estenda a sua vara sobre o mar” (14, 15).

Durante essa noite, a nuvem que ia adiante do povo (13, 21-22) se deslocou para uma posição entre o acampamento do povo israelita e o acampamento dos egípcios. Tal fato provocou uma grande aparência de tempestade, de tal modo que a tropa egípcia não poderia se aproximar do acampamento israelita (14, 19-20).

Diante disso, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e um forte vento fez o mar se abrir, com uma passagem seca, de tal modo que se formaram duas paredes de água, uma à direita e outra à esquerda. O povo de Israel então passou pelo mar em terra seca (14, 21-22).

Somente após toda a passagem do povo de Israel por dentro do mar, a nuvem deixou o acampamento egípcio. Diz o texto que os egípcios também entraram pelo mar aberto em duas partes, mas eles tiveram dificuldade para fazer a travessia. Deus então mandou Moisés estender a sua mão sobre o mar e as águas se fecharam, afogando toda aquela tropa (14, 23-29).

Em razão desse grande milagre, o povo muito se alegou e Moisés entoou um canto de louvor a Deus. O capítulo 15 narra esse canto que celebra a vitória do povo de Israel nesse episódio, após o livramento fantástico providenciado por Deus.

A passagem pelo Mar Vermelho tem dois significados, um de ordem local e estratégico, pois o curso de água separava definitivamente o povo de Israel do Egito, e agora a relação servil que existiu por mais de 400 anos estava quebrada, enfim, o povo de Israel era um povo livre.

A passagem pelo mar Vermelho é um prenúncio, uma prefiguração no nosso batismo (15-16). Assim como o povo de Israel sai da condição de escravidão e para alcançar o deserto que o separa do Egito, passa pela água, pelo mar; o cristão deixando a vida separada de Deus, para ingressar no corpo de Cristo que é a Igreja, passa pelo batismo.

Trata-se de um momento de Festa, de alegria. Não é sem razão que estando do outro lado do Mar Vermelho, o texto do capítulo 15 é constituído pelo Canto da Vitória.

Gabriel Campos, Brasília – DF, 12 de março de 2024. Memória de São Luís Orione, fundador da Pequena Obra da Divina Providência, os Orionitas.


[1] BERGANT, Dianne. KARRIS, Robert J. Comentário bíblico (tradução Barbara Theoto Lambert). São Paulo: Loyola, vol. I, p. 96.

[2] BERGANT, Dianne. KARRIS, Robert J. Comentário bíblico (tradução Barbara Theoto Lambert). São Paulo: Loyola, vol. I, p. 95.

[3] BERGANT, Dianne. KARRIS, Robert J. Comentário bíblico (tradução Barbara Theoto Lambert). São Paulo: Loyola, vol. I, p. 95.

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