1. A Bíblia Sagrada[1]
O que é a Bíblia Sagrada?
A Bíblia Sagrada ou Sagradas Escrituras é um conjunto de livros reunidos em um único volume, que juntamente com a Tradição Apostólica, trata da revelação de Deus à humanidade. É o livro mais publicado, mais divulgado, e, possivelmente, o mais lido de todos os tempos.
No Catecismo da Igreja Católica, lemos nos itens 105 e 106: “Deus é o autor da Sagrada Escritura. As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo. A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria Igreja”.
Nesse pequeno texto vamos tratar de uma brevíssima introdução à Bíblia Sagrada.
O termo “Bíblia” é a simples transliteração para a língua portuguesa, da palavra grega Biblos que significa livros, assim no plural. A palavra grega Biblos é o plural da palavra grega Biblion, que significa “livro”. Dessa forma, enquanto dizemos em português Livro e Livros, para designar um livro ou vários livros; em grego dizemos Biblion e Biblos, para designar um livro ou vários livros, respectivamente.
Já o termo “Escrituras” vem do latim scriptum que é o particípio do passado “escrever”.
É muito comum no meio cristão, o uso de outras palavras para designar a Bíblia, tais como “Sagradas Escrituras”, “Sagrada Escritura”, “Bíblia Sagrada”, “Livro Sagrado”, “Livro dos Livros”, “Biblioteca Sagrada”, “Livro Santo”, “Sagradas Letras” etc.
Nesse texto os termos Bíblia e Sagradas Escrituras serão obviamente tomados como sinônimos.
1.1. A Bíblia e a Palavra de Deus
Comumente ouvimos dizer que que a Bíblia é a Palavra de Deus. Embora essa afirmação esteja correta, será que podemos dize que toda a Palavra de Deus está encerrada na Bíblia?
Os nossos irmãos separados, via de regra, chamados de Protestantes ou Evangélicos, dirão que sim, pois o líder da Reforma Protestante, dentre outros, baseou seu movimento em um princípio que denominou Sola Scriptura, segundo o qual toda a Revelação de Deus estava consignada na Bíblia.
Mas essa afirmação pode ser tomada por um católico como verdadeira, para então dizer que toda a revelação está contida na Bíblia?
Embora amemos e veneramos a Bíblia, como um livro divinamente inspirado, não podemos afirmar que toda a Revelação está ali contida. Na nossa fé católica a expressão Palavra de Deus é mais ampla que o conteúdo da Bíblia.
Com outras palavras, embora o que esteja consignado na Bíblia seja Palavra de Deus, a Bíblia não encerra em si toda a Revelação, toda a Palavra de Deus.
A compreensão do que é a Palavra de Deus, passa necessariamente pela compreensão do que são a Bíblia ou Sagrada Escritura e a Tradição. Vejamos desde o princípio, durante os três anos que aqui viveu, o Nosso Senhor Jesus Cristo formou o grupo dos doze, que também chamamos de colégio apostólico, e lhes repassou tão grande ensinamento que não caberiam nos livros do mundo inteiro, caso fossem escritos (Jo 21,25). Esse conjunto de ensinamentos que os Apóstolos receberam de Jesus e puseram em prática, tendo sido depois, transmitido aos bispos, seus sucessores é a Sagrada Tradição, algumas vezes chamada de Tradição Apostólica ou simplesmente Tradição, com “T” maiúsculo.
Além da Tradição que os Apóstolos receberam diretamente de Jesus, outra fonte de revelação nos veio por meio das Sagradas Escrituras, um conjunto de livros escritos por homens santos, inspirados pelo Espírito Santo.
Acerca dessas duas fontes de revelação de Deus, ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica em seu item 81 que: “A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo. Quanto à Sagrada Tradição, ela “transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e difundam.
Como vimos, o item 81 do Catecismo da Igreja Católica define a Sagrada Escritura como Palavra de Deus, e também afirma que a Tradição transmite fielmente a Palavra de Deus confiada por Cristo. Com outras palavras, diz o item 81 do Catecismo da Igreja Católica que tanto a Sagrada Escritura como a Tradição são Palavra de Deus. É essencial essa compreensão de que a Palavra de Deus é formada pela Tradição Apostólica e pela Bíblia Sagrada.
Com isso, afirmamos, como faz o Catecismo da Igreja Católica no item 82, que a Igreja “não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura”, mas da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição, aceitando ambos em igual pé de igualdade, devoção, respeito e consideração.
No âmbito católico, o fato de coexistirem duas fontes da divina revelação – Tradição e Sagradas Escrituras – em momento algum pode significar perigo de contradição ou confusão. Com efeito, a Constituição Apostólica Dei Verbum, resultada do Concílio Vaticano II e promulgada pelo Papa São Paulo VI em 18/11/1965, afirma em seu item 9 que:
9. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.
1.2. O Sagrado Magistério
A Igreja Católica nos ensina que a Revelação de Deus que se inicia com Adão e tem seu ápice em Jesus Cristo, percorrendo toda a história da humanidade até aquele momento, encerrando-se com a morte do último apóstolo, que foi São João Evangelista, por volta do ano 100 d.C. Com a morte do último Apóstolo estava concluída toda a revelação de Deus, não se podendo mais cogitar de nenhuma outra manifestação, ensinamento ou revelação dos quais dependesse a nossa salvação, princípio que nos é ensinado pelo item 66 do Catecismo da Igreja Católica.
Nada obstante a revelação está completa, esse conjunto presente na Tradição e nas Escrituras precisa ser explicitado ao longo do tempo, pois o mundo, as sociedades, as culturas, os meios de vida, as tecnologias, enfim, todas as mudanças no meio social precisam ser lidas à luz da Tradição e das Escrituras, resultando daí um ensinamento indispensável para o Povo de Deus. Esse ofício é denominado de Sagrado Magistério. O item 85 do Catecismo da Igreja Católica nos ensina que o ofício de interpretar de forma autêntica a Palavra de Deus – Sagradas Escrituras e a Sagrada Tradição – cabe à Igreja que o exerce na forma do Sagrado Magistério, que é exercido pelos bispos em comunhão com o Santo Padre o Papa, bispo de Roma e sucessor de São Pedro.
1.3. A inspiração e Inerrância da Bíblia
O tema da inspiração já está solidificado na Tradição[2] e no Magistério da Igreja. Com efeito, como se disse anteriormente, o 81 do Catecismo da Igreja Católica e o item 9 da Constituição Dogmática Dei Verbumafirmam que: “A Bíblia é a Palavra de Deus, enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo”. Com isso se quer dizer que toda a Bíblia teve em cada uma de suas palavras escritas por homens a inspiração do Espírito Santo[3]. Corroborando esse entendimento, o item 105 do Catecismo da Igreja Católica afirma que “Deus é o autor da Sagrada Escritura”, pois na sua escrita, os hagiógrafos[4] agiram movidos e inspirados pelo Espírito Santo.
A questão da inerrância bíblica está profundamente interligada com a própria questão da inspiração bíblica. Logo, uma vez que cremos que a Bíblia Sagrada foi integralmente inspirada por Deus, devemos por consequência lógica, e também por coerência intelectual, compreender e acreditar que a Bíblia não contém erros em seus escritos.
Quando falamos da inerrância bíblica, será preciso entender que as Escrituras Sagradas não se prestam a contar a história da humanidade, tal qual se entende por história no sentido greco-romano; elas, as Escrituras Sagradas, também não se prestam a ser um tratado científico no âmbito das ciências exatas ou humanas. Então, qual é o sentido e a finalidade das Sagradas Escrituras?
O item 107 do Catecismo da Igreja Católica ensina o seguinte: “Portanto, já que tudo o que os autores inspirados (ou hagiógrafos) afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, em vista de nossa salvação, quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras”.
A chave de compreensão da questão da inerrância bíblica está aqui nesse item 107 do Catecismo… As Escrituras ensinam “a verdade que Deus, em vista de nossa salvação, quis fosse consignada”. Ensinar a verdade de Deus, que é o seu Cristo, tendo em vista a salvação do gênero humano, essa é a pretensão e a razão de ser das Sagradas Escrituras. E é nesse sentido e à vista de tal pretensão que devemos entender a inerrância das Sagradas Escrituras.
Para completar esse entendimento, veio o Sagrado Magistério em nosso socorro, por meio do Concílio Vaticano II, expresso no parágrafo 11 da Constituição Dogmática Dei Verbum, dizendo:
Natureza da inspiração e verdade da Sagrada Escritura
11. (…)
E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras (5). Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas» (Tm. 3, 7-17 gr.).
A partir desse dispositivo da Dei Verbum, o monge beneditino Dom Estêvão Bittencourt, OSB[5], nos ensina que “é isento de erro ou veraz tudo aquilo que o hagiógrafo como tal afirma no sentido em que o hagiógrafo o entendeu”. Com outras palavras, de acordo com o gênero literário, estilos e figuras, isto é, com todo aquele conjunto que o hagiógrafo tomou por empréstimo para escrever, ele vai proferir uma verdade[6].
Vejamos um exemplo de um dado a respeito do tema.
Quando o texto de II Reis 17,5-23 afirma que o rei assírio Salmanasar sitiou a cidade Samaria, quando se sabe historicamente, que tal sítio se deu sob o reinado de Sargão II, seu sucessor, teremos aí um erro, uma contradição que depõe contra o princípio da inerrância bíblica? Não, de modo nenhum. Como se disse linhas acima, a inspiração divina não se constituiu em um ditado, por meio do qual Deus ia falando cada palavra, e um hagiógrafo, em uma espécie de transe e agindo como um autômato ia escrevendo. O hagiógrafo escreveu inspirado por Deus, mas a partir do mundo em que vivia, a partir da sua percepção e de seus conhecimentos. Portanto, no caso em comento, o hagiógrafo de II Reis 17,5-23 quis transmitir a mensagem acerca da ação do império Assírio que invadiu o Reino do Norte e sitiou Samaria, a sua capital, por volta do século VIII a.C. Dessa forma, quando ele atribui a ação ao Rei assírio Salmanasar, quando na verdade a invasão se deu sob o comando do Rei assírio Sargão II, sucessor de Salmanasar, o que temos é uma percepção histórica do hagiógrafo, quando o tema que efetivamente importa e sobre o qual incide o princípio da inerrância bíblica, é o fato de que a Assíria, por volta do século VIII a.C., invadiu o Reino do Norte e sitiou a sua capital, a cidade de Samaria. Portanto, a compreensão correta da inerrância bíblica é fundamental para o estudo bíblico seja proveitoso.
1.4. Organização da Bíblia
A história da humanidade é ´pois a história da revelação de Deus ao ser humano, e essa história, está descrita nas Sagradas Escrituras. É nesse sentido que devemos considerar a primeira grande divisão das Sagradas Escrituras em Antigo Testamento e Novo Testamento.
O Antigo Testamento ou a Antiga Aliança conta a história da criação de todas as coisas, a relação amigável de Deus e da humanidade, a entrada do pecado, a queda do homem, e, a partir de então, a incansável busca de Deus na reconciliação com a humanidade. O Antigo Testamento é, em síntese, a história da revelação gradual, pedagógica e progressiva, por meio da qual Deus quer se mostrar, Deus quer se dar a conhecer pela humanidade.
O Novo Testamento ou Nova Aliança nos fala do ápice da Revelação de Deus, por meio da encarnação de seu filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, no seio da Virgem Maria (Gl 4,4). O Novo Testamento nos fala do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de sua vida terrena, dos seus apóstolos, de sua paixão, morte e ressurreição, bem como nos ensina sobre a vinda do Espírito Santo, o início da Igreja e os fundamentos de nossa fé, expressos nas cartas paulinas e nas cartas universais, além do livro de literatura apocalíptica, e por fim, da volta gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo e do juízo final.
Então o que percebemos é que essas duas grandes partes da Bíblia, o Antigo e o Novo Testamento contempla toda a história da humanidade, naquilo que é essencial para a salvação de nossa alma e nossa vida eterna em Deus.
1.5. Organização Temática da Bíblia
Além da organização das Escrituras em Antigo e Novo Testamento, existem outras formas de divisão também, como por exemplo, a divisão ou organização temático-literária das Escrituras, que agrupa os livros em gêneros literários próprios.
1.5.1. O Antigo Testamento
Os livros do Antigo Testamento podem ser agrupados, segundo a sua unidade de temas e gêneros literários nos seguintes grupos:
Pentateuco: É a coleção formada por cinco livros iniciais, para alguns, escritos por Moisés por volta do séc. XV a.C., para outros, escrito por volta do séc. VIII ao VI a.C., a partir da tradição oral. O Pentateuco abrange o período que vai desde a criação até aproximadamente o ano 1.500 Antes de Cristo:
Gênesis, que trata das origens, como a criação, pecado original, expulsão, aliança com Noé, aliança com Abraão, história do cativeiro no Egito;
Êxodo, que trata da libertação do Egito e da peregrinação em busca da terra de Canaã;
Levítico, que trata das prescrições e rituais, relativas ao culto público e privado;
Números, que cuida narração da permanência dos hebreus no deserto;
Deuteronômio, que trata da exortação à fidelidade com Deus e seus mandamentos.
Livros Históricos: É a coleção de dezesseis livros que trata da história de Israel, desde a chegada à Terra de Canaã até o domínio romano por volta do sec. II a.C., abrangendo aí um total de 14 (catorze) séculos. São eles:
Josué. É um livro que narra o período do sec. XIII a.C., com a chegada e a fixação dos hebreus à terra que Deus lhes deu. A tradição atribui sua autoria a Josué. O livro de Josué abrange os primeiros cinquenta anos da chegada do povo de Deus à terra de Canaã (1500 a.C. -1450 a.C.);
Juízes. De autoria desconhecida, o livro de juízes segue a história de Israel por um período dos 200 ou 300 anos seguintes ao livro de Josué (1.450 a.C. – 1.150 a.C.);
Rute. A história de Rute cuida de uma estrangeira que ficou viúva de um judeu, e ainda assim, opta por continuar a viver e se integrar aos judeus. É uma história de piedade, piedade para com o estrangeiro que se achega a Israel. O Livro de Rute ocorre no período dos Juízes;
Os dois livros de Samuel. Narra o período de organização de Israel como Estado sob o reinado de Saul, seguido de Davi (entre os anos 1.050 a.C – 950 a.C.);
Os livros de Reis. Esses dois livros tratam da história dos reis de Israel, indo do ano de 950 a.C. até o cativeiro da Babilônia que se dá no ano de 587 a.C.;
Os dois livros de Crônicas. É a sequência histórica de Israel após o cativeiro babilônico e com a dominação persa por Ciro em 538 a.C.;
Esdras. É um livro que trata de episódio inserido dentro do cativeiro persa, Esdras liderou o retorno dos israelitas à terra natal após o cativeiro persa. Sua história se passa no pós-Exílio, a partir de 538 a.C.;
Neemias. Tal qual Neemias, insere-se no período do retorno do cativeiro persa, a partir de 538 a.C.;
Tobias, Judite e Ester são livros históricos que seguem a sequência anterior;
Os dois livros de Macabeus. Esses dois livros tratam da ocupação principalmente da pelo Império Selêucida, um dos sucessores de Alexandre o Grande, logo antes do advento de nosso Senhor Jesus Cristo, abrangendo o período de 175 a.C. até 63 a.C.
Livros Sapienciais: É a coleção de sete livros que tratam de sabedoria, filosofia, poesia, investigação da natureza humana, mas todos integrados na revelação de Deus… São eles:
Jó. O livro de Jó trata da história dramática deste personagem, sua vida, sofrimento, fidelidade a Deus, resignação e confiança eterna, bem como a resposta final de Deus aos seus;
Salmos. Era o livro de oração dos antigos judeus, sendo que a palavra psalmus significa louvor;
Provérbios. É uma obra literária de Salomão, filho de Davi e terceiro rei de Israel, que viveu por volta do ano 950 a.C. O livro de Provérbios é um livro de piedade, ética, educação e vida religiosa e piedosa;
Eclesiastes. É uma obra filosófica sobre a instabilidade da vida humana, como um dilema da existência, e a segurança que a vida com Deus proporciona, como resposta ao dilema;
Cântico dos Cânticos. É uma coleção de poemas que descreve o amor nupcial. A Igreja vê neste livro um simbolismo referente ao amor de Cristo pela sua Igreja;
Sabedoria. Sabedoria divina;
Eclesiástico ou Sirácida. Trata-se de um conjunto exortativo da vida humana em suas diversas dimensões, tais como família, leis, riqueza, pobreza…;
Profetas: Os livros dos Profetas descrevem a mensagem de Deus aos seus fiéis de Israel, com preciosas mensagens para os nossos dias. Os Profetas eram homens que recebiam a revelação divina para exortar o povo quanto à vontade de Deus. O período dos Profetas se estende de aproximadamente 580 a.C. até o ano 400 a.C.
São eles: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Sofonias, Habacuc, Ageu, Zacarias e Malaquias.
É muito comum a divisão dos Profetas em Profetas Maiores, abrangendo Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; e Profetas Menores, todos os demais profetas. Tal divisão não guarda nenhuma relação de valoração dos escritos proféticos, referindo-se apenas ao tamanho da obra escrita de cada profeta, sendo que os chamados Profetas Maiores escreveram obras mais volumosas, mas nem por isso mais especial que os demais denominados Profetas Menores.
1.5.2. O Novo Testamento
O Novo Testamento pode ser dividido nos seguintes grupos: Evangelhos, Livro Histórico, Cartas Paulinas, Cartas Universais ou Católicas e Literatura Apocalíptica. Cada estilo literário possui características, estilos e objetivos próprios, o que permite o seu estudo em bloco, ou ainda, em comparação com outras partes da Bíblia.
O Novo Testamento também pode ser agrupado para fins de estudo, segundo o tema de que tratam os diversos livros, da forma seguinte:
Evangelhos: A palavra “Evangelho” tem origem grega Euaggelio e significa “boas novas”. Os Evangelhos contém a narrativa da encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo, sua mensagem, paixão e ressurreição, a fim de nos ternar filhos de Deus.
Os Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas são comumente denominados de Evangelhos Sinóticos, pois tratam de Jesus sob uma mesma ótica, qual seja, a história de sua vida, mensagem, paixão, morte e ressurreição. O Evangelho de São João destoa dessa visão, pois a abordagem não é biográfica propriamente, mas de apresentação teológica da paixão de Cristo.
Evangelho Segundo São Mateus. A leitura de São Mateus deixa claro que ele foi escrito originalmente para as comunidades cristãs oriundas do judaísmo, por isso Mateus se esforça para demonstrar que Jesus de Nazaré é o Messias prometido aos judeus, razão pela qual ele descreve a genealogia de São José e da Virgem Maria a partir do Patriarca Abraão e do Rei Davi, além de abusar das citações do Antigo Testamento;
Evangelho Segundo São Marcos. A leitura de São Marcos deixa claro que ele foi escrito para imprimir ao povo de cultura romana a mensagem de salvação. Direto, prático e cartesiano, como são os romanos. São Marcos foi Bispo de Veneza e por lá estão as suas relíquias;
Evangelho Segundo São Lucas. A leitura de São Lucas deixa claro que ele escreveu para as pessoas de cultura grega, o homem comum, mas dotado de alta cultura e capacidade de especulação. O destinatário do Evangelho de São Lucas não tinha uma vinculação específica com a cultura judaica, por isso, São Lucas apresenta Jesus como “o filho do Homem”. O Evangelho de São Lucas é dirigido a uma pessoa chamada Teófilo, que significa “amigo de Deus”;
Evangelho Segundo São João. São João apresenta o Evangelho da paixão de Cristo. É um Evangelho diferente, pois São João centra a sua descrição na paixão, morte e ressurreição de Cristo. Ele não se importa em contar a história da vida de Jesus, para ele basta dizer que Jesus é o Deus Eterno Todo-Poderoso (João 1,1-3) que se fez homem (João 1,14).
Histórico: No Novo Testamento temos apenas um livro histórico que o Atos dos Apóstolos, escrito por São Lucas. Ele tem início na ascensão de Jesus e vai até a prisão de São Paulo em Roma por volta do ano 67 d.C.
Epístolas de São Paulo ou Cartas Paulinas: Essas Cartas foram escritos de São Paulo às Igrejas de sua época, nascidas nos lugares que ele levou a mensagem do Evangelho ao longo de suas três viagens missionárias.
São elas: Carta aos Romanos, I Carta aos Coríntios, II Carta aos Coríntios, Carta aos Gálatas, Carta aos Efésios, Carta aos Filipenses, Cartas aos Colossenses, I Carta aos Tessalonicenses, II Carta aos Tessalonicenses, I Carta a Timóteo, II Carta a Timóteo, Carta a Tito, Carta a Filemon, Carta aos Hebreus.
Epístolas Católicas: É o nome que se dá a um conjunto de sete cartas, não dirigidas a uma comunidade específica, mas à Igreja em geral.
São elas: Epístola de Tiago, I Epístola de Pedro, II Epístola de Pedro, Epístola de Judas, I, II e III Epístolas de João.
Livro Profético ou Apocalíptico: Apocalipse, escrito por São João, por volta do ano 100, quando exilado na ilha de Patmos, contém a revelação das coisas que hão de vir.
1.6. Divisão dos Livros em Capítulos e Versículos
Originalmente os textos bíblicos foram escritos de forma contínua, sem nenhuma uma grande preocupação com a divisão interna. Uma mudança salutar nesse sentido, somente veio ocorrer no século XIII, quando Stephen Langton (1150-1228), Arcebispo de Canterbury, fez a divisão da Bíblia em capítulos. Até os dias de hoje adotamos o padrão de divisão dos livros da Bíblia em capítulos proposto por Stephen Langton.
A primeira divisão dos capítulos em versículos ocorreu com São Pagnino, OP (1470-1541), um judeu convertido ao catolicismo que tomou o hábito dominicano, em 1527. Posteriormente, surgiu Robert Estienne (1503-1559), um intelectual e tipógrafo suíço, que aperfeiçoou o trabalho de São Pagnino, apresentando uma nova versão da divisão dos capítulos da Bíblia em versículos. Até os dias de hoje adotamos o padrão de divisão dos capítulos da Bíblia em versículos proposto por Robert Estienne.
1.7. Idiomas
O Antigo Testamento foi quase totalmente escrito em hebraico, mas algumas partes foram escritas em aramaico, a saber: Ed 4,8-6,18; 7,12-26, Dn 2,4-7,28, duas palavras em Gn 31,47 e uma frase em Jr 10,11. Os livros de Sabedoria e o livro de II Macabeus[7] foram escritos em grego.
Existe um quase consenso geral de que o Novo Testamento foi inteiramente escrito em grego koinê (comum). Alguns autores, entretanto, afirmam que o Evangelho de São Mateus, destinado originalmente às comunidades cristãs oriundas do judaísmo teria sido escrito inicialmente em aramaico, sendo vertido depois para o grego koinê[8].
1.8. O Cânon Bíblico
Cânon ou Cânone é um termo que deriva do grego kanwn (cânon), sendo na verdade uma palavra de origem semítica, do hebraico qãneh, conforme citado em Ezequiel 40,3, que significava caniço. Depois passou a ser considerada como uma régua de carpinteiro, para então passar a designar uma régua ou vara de medir. Na Língua Portuguesa o termo adquiriu o significado geral de regra, preceito ou norma[9]. No âmbito do Cristianismo, denomina-se Cânon, Cânon Bíblico, Cânone ou Cânone Bíblico a lista de livros que integra a Bíblia Sagrada.
1.8.1. O Cânon do Antigo Testamento
Os textos que vieram a formar o Antigo Testamento começaram a ser escritos em tempos muito remotos, a partir das tradições verbais dos judeus, da compilação de suas leis ao tempo da Aliança Sinática, acrescidos aos poucos com outros escritos sem uma preocupação rígida de sua catalogação, como nos ensina Dom Estêvão Bittencourt[10].
A partir do século VI a.C., o hebraico iniciou um processo de desuso, tendo esse quadro se agravado no período pós-exílio. Por volta do século III a.C., em razão da expansão política, militar e cultural do Império da Macedônia, o grego passou a ser o idioma universal de todo o mundo. Nessa época, existia uma importante colônia judaica na cidade de Alexandria, no Egito, onde havia também uma escola rabínica. Atendendo a um pedido do Rei egípcio Ptolomeu II Filadelpho (287-247 a.C.), foi ali realizada uma tradução das Escrituras Judaicas, para nós o Antigo Testamento, do hebraico e aramaico para o grego koinê (comum), tendo essa tradução se tornado uma importante fonte de tradução e estudo do Antigo Testamento nos séculos seguintes.
Essa tradução recebeu o nome de Septuaginta, sendo chamada também de Versão dos Setenta ou LXX.
Quando adveio o Nosso Senhor Jesus Cristo, foram escritos os Evangelhos, as Cartas Paulinas e as Cartas Pastorais. Na tentativa de harmonizar os novos escritos com a história da revelação, os hagiógrafos citavam as Sagradas Escrituras judaicas, para nós o Antigo Testamento, a partir da Septuaginta, mesmo quando observavam no texto grego da Septuaginta alguma divergência do hebraico. Vejam como exemplo: Mt 1,23 cita Is 7,14; Hb 10,5 cita Sl 39/40,7; Hb 10,37 cita Hb 2,3; At 15,16 cita Am 9,11.
Dom Estêvão Bittencourt, OSB[11], ensina que, a partir de aprofundados estudos filológicos é possível afirmar que das 350 citações que os escritos do Novo Testamento fazem do Antigo Testamento, pelo menos 300 citações foram feitas a partir do texto da Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento.
Esses dados mostram que o texto base de leitura e de estudos das Sagradas Escrituras, leia-se, Antigo Testamento, a que os Apóstolos tiveram acesso e manusearam, era o texto da Septuaginta.
Com o passar do tempo, lá por volta do ano 90 d.C., os rabinos judeus resolveram fixar um Cânon Judaico. Então eles se reuniram na cidade de Jâmnia e depois de muita discussão e estudo, resolveram excluir de suas Escrituras, para nós o Antigo Testamento, os livros não escritos em hebraico, os livros escritos fora de Israel e os livros escritos depois de 400 d.C. Com isso os livros de Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, Baruch, I e II Macabeus, além de trechos de Ester e Daniel foram excluídos do Cânon judaico, eram os chamados livros deuterocanônicos. Todavia, esses livros estavam presentes no texto da versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta.
Ocorre que quando os rabinos em Jâmnia resolveram excluir os livros deuterocanônicos e as partes de Ester e Daniel, todos presentes na Septuaginta, a Igreja já lia e citava as Escrituras a partir da Septuaginta. Por essa razão, a Igreja sempre aceitou como canônicos os livros deuterocanônicos como inspirados por Deus, e por isso estão presentes do Cânon do Velho Testamento das edições católicas da Bíblia Sagrada.
Dessa forma, a Igreja fixou como inspirados pelo Espírito Santo para compor o Cânon do Antigo Testamento as Escrituras Judaicas, acrescidos dos livros deuterocanônicos integrantes da Septuaginta¸ a saber, os seguintes livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coélet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias
1.8.2. Cânon do Novo Testamento
O Nosso Senhor Jesus Cristo jamais escreveu qualquer coisa, ele simplesmente não deixou nada escrito e tampouco ordenou que seus Apóstolos e discípulos escrevessem qualquer coisa. O que Jesus determinou a todos os seus seguidores foi que pregassem o Evangelho, batizassem as pessoas, ensinassem as pessoas conforme ele próprio havia ensinado (Mt 28,19-20; Mc 16,15; Lc 24,46-53 e At 1,8), jamais que escrevessem livros acerca de seus ensinamentos. E assim foi, durante os primeiros anos do cristianismo, quando a mensagem cristã era transmitida essencialmente e exclusivamente de forma oral[12].
Não se sabe a razão exata, mas depois de algum tempo do início da Igreja, muitas pessoas se dispuseram a escrever acerca da vida de Jesus e de seus ensinamentos. São Lucas, quando se dispõe a escrever a Teófilo, para explicar em detalhes quem foi Jesus de Nazaré e o que ele ensinou, fala que muitos já tinham escrito acerca daquele curioso personagem (Lc 1,1). Entre o final do primeiro século e meados do segundo século, já eram tantos os escritos, tantas as histórias, tantos os causos, que a Igreja viu a necessidade de organizar um Cânon do Novo Testamento[13].
É interessante anotar que o primeiro escrito do Novo Testamento foi a primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses, o que aconteceu em torno do ano 55. Observe que a Igreja viveu os primeiros 25 anos sem nenhuma linha do Novo Testamento escrito, tendo vivido e se desenvolvido apenas com a Tradição Apostólica.
A partir do século II já circulavam inúmeros conjuntos de livros, cartas, epístolas e evangelhos atribuídos aos Apóstolos e a seus discípulos, quando então a Igreja, por seus Padres e Bispos, sob assistência do Espírito Santo, começou a se debruçar sobre essa multiplicidade de escritos, para selecionar quais seriam aqueles tidos por inspirados por Deus, tendo sido usado vários critérios para tanto, como por exemplo, a coerência com a Tradição, a pertinência com o ensino dos bispos, a leitura frequente nas missas, dentre outros.
Mas esses escritos não eram organizados em bloco como temos hoje o Novo Testamento. Esses escritos circulavam no todo em parte pelas diversas comunidades do primeiro e segundo século. Era comum em determinadas localidades existir uma cópia de um dos Evangelhos, enquanto em outra comunidade existiam os quatro Evangelhos, ou parte deles, o mesmo acontecendo com as demais cartas.
E também não circulavam apenas os 27 escritos que compõe hoje o Novo Testamento. Existiam dezenas de “Evangelhos”, cartas, recomendações, manuscritos e escritos diversos, chegando mesmo a centenas de textos.
Com esse trabalho iniciado, inúmeras listas surgiram com a tentativa de se fixar um Cânon do Novo Testamento. Essas listas recebem o nome de seus autores ou dos concílios que as organizaram. São elas o Cânone Muratori[14], o Cânone de Orígenes no século III, o Cânon do II Concílio de Antioquia do século III, o Cânon de Eusébio de Cesareia em 324, o Cânon de Cirilo de Jerusalém em 384, o Cânon de Hilário de Poitiers em 360, o Cânon de Momsem em 360 e o Cânon de Laodicéia também em 360 e o Cânon de Santo Antanásio[15] em 367.
Depois de um exaustivo trabalho, estudos, pesquisas e discussões, o Sínodo de Hipona em 393, os Sínodos de Cartago em 397 e 419, realizados sob os auspícios de Santo Agostinho, e o Sínodo de Roma, sob a liderança do Papa São Dâmaso I em 382, aprovaram como Canônicos os 27 livros que compõem hoje o Novo Testamento.
Dessa forma, a Igreja fixou como inspirados pelo Espírito Santo para compor o Cânon do Novo Testamento os seguintes livros: Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de São Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, a primeira e a segunda aos Tessalonicenses, a primeira e a segunda a Timóteo, a Tito, a Filêmon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as três Epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse.
1.8.3. A Vulgata Latina e a Manutenção do Texto Bíblico
Uma vez fixado o Cânon do Antigo e Novo Testamento, existia ainda um problema, era preciso reunir esses livros e organizá-los para o uso correto e a devida preservação dessa matriz bíblica. Aí entra a história da Vulgata Latina.
A partir do século III a.C., em razão do grande poder do Império Macedônio de Alexandre o Grande, o grego passou a ser o idioma prevalente em quase todo o mundo. Mesmo após o fim da Macedônia e a ascensão de Roma, por volta do ano 40 a.C., o grego ainda perdurava como idioma mais falado no mundo, e assim continuou por muito tempo. Mas a partir da segunda metade do século II d.C., com o apogeu do Império Romano, o idioma grego começa cair em desuso e a perder espaço para o latim.
Dessa forma, após considerar que o hebraico, o aramaico, e até mesmo o grego, eram línguas que caíam em desuso, enquanto o latim se fortalecia, o Papa São Dâmaso I, por volta do no 380, entendeu ser necessária a tradução de toda a Sagrada Escritura para o idioma do Império, o latim.
Outra questão importante é que muitas dioceses, sobretudo no norte da África, mas também pela Ásia, estavam elaborando traduções do texto grego para o latim, a fim de facilitar a compreensão das Escrituras, uma vez que o latim passava a ser o idioma dominante.
O risco de traduções erradas, incompreensões e perigo para a fé católica era iminente. A Igreja deveria operar no sentido de garantir a higidez e a correta tradução do texto sagrado.
Para tanto, o Papa São Dâmaso I encarregou São Jerônimo de Estridão, um dos grandes intelectuais de seu tempo, de elaborar a tradução adequada das Sagradas Escrituras – Antigo e Novo Testamento – para o latim. O trabalho de São Jerônimo deveria ser o de verificar as traduções existentes, corrigi-las, adequá-las, e ainda, completar a tradução daquilo que faltava. Como resultado de uma incrível dedicação e grande intelectualidade, São Jerônimo completou a sua obra em um tempo relativamente aceitável.
A obra de São Jerônimo na forma de uma tradução e atualização completa do Antigo e Novo Testamento para o latim passou a ser conhecida como Vulgata Latina, pois o Santo de Estridão teve o cuidado de traduzir as Escrituras para um latim menos castiço, um latim popular, daí Vulgata.
A Vulgata Latina acabou por se tornar o texto oficial das Escrituras para a Igreja Católica, sobretudo, depois de os Concílios Regionais de Hipona em 393, Cartago III em 397, Cartago IV em 419 e Trulos em 692 unanimemente afirmarem o seu Cânon como inspirado por Deus. Posteriormente, os Concílios Ecumênicos de Florença em 1442, Trento entre 1545-1563 e Vaticano I em 1870 reafirmaram a canonicidade da Vulgata Latina, aí incluídos os livros deuterocanônicos[16].
É preciso aqui lembrar que todos esses textos eram manuscritos, isto é, os primeiros textos hebraicos que formaram o Antigo Testamento, os textos que formaram Novo Testamento, e a própria Vulgata de São Jerônimo.
A manutenção da higidez do texto bíblico é uma obra da Igreja Católica, sobretudo por meio dos Mosteiros Beneditinos. A partir da fixação do Cânon Bíblico e da edição da Vulgata Latina, foram as bibliotecas que guardaram o tesouro bíblico para o mundo de hoje. E essa guarda se fez por meio dos monges copistas, que diuturnamente faziam cópias das Bíblias, permitindo que esse valioso tesouro chegasse aos dias de hoje.
Durante esse tempo, um exemplar da Bíblia era um conjunto de vários volumes cujo custo de produção, uma vez que era manual, era altíssimo, sendo que poucos exemplares existiam em disponibilidade.
Em todo esse tempo, foi a Tradição Apostólica ensinado de bispo a bispo que manteve viva a mensagem cristã.
Entre a Vulgata Latina de São Jerônimo, concluída por volta de 380 e a invenção da imprensa de tipos móveis por Johann Guttemberg, bem como a primeira impressão da Bíblia, em 1455, transcorreram 1075 anos. Com outras palavras, por mais de um milênio monges católicos, guardaram, copiaram e preservaram a Bíblia Sagrada.
Com a invenção da imprensa, a Bíblia Sagrada pode enfim ser distribuída a um número maior de instituições, igrejas, bibliotecas, universidades, mosteiros e conventos, bem como ao público em geral.
1.9. A Relação Entre o Antigo e o Novo Testamento
A Igreja Católica, a partir do próprio ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos apóstolos e dos Santos Padres sempre soube conciliar de forma perfeita e com precisão uma clara relação entre o Antigo e o Novo Testamento. Segundo o item 128 do Catecismo da Igreja Católica, já nos tempos apostólicos viu na tipologia a forma correta de ler o Antigo Testamento. Dessa forma a Igreja sempre viu nos ensinamentos do Antigo Testamento, um conjunto de prefigurações, de tipologias, daquilo que havia de vir em Jesus Cristo. Com isso a Igreja viu que Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo (“Novum in Veter latet et in Novo Vetus patet”).
1.10. A Interpretação da Bíblia
Quem pode interpretar autenticamente a Sagrada Escritura? A resposta a essa pergunta é bem simples, clara e direta e nos é trazida pelo Catecismo da Igreja Católica em seus itens 111-114.
O Catecismo nos ensina dois princípios basilares da interpretação bíblica, a saber, o caráter cristocêntrico da Bíblia e a leitura da Bíblia segundo a Tradição da Igreja.
Então, em primeiro lugar, devemos entender que no processo de interpretação deve se considerar que, nada obstante, a multiplicidade de livros, a mensagem da Bíblia é uma só, tudo converge em “unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração”, diz-nos o item 112 do Catecismo da Igreja Católica. Isto é, não é possível ler a Bíblia sem buscar encontrar em cada uma de suas linhas, em cada um de seus ensinamentos, em cada uma de suas histórias a mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em segundo luar, precisamos entender que a Bíblia deve ser lida segundo Tradição da Igreja, como nos diz o item 113 do Catecismo da Igreja Católica. Isso porque foi a Tradição que nos deu a Bíblia Sagrada e não o contrário. Assim, concluímos que não é possível interpretar a Bíblia sem a Igreja, fora da Igreja e contra a Igreja. Com outras palavras, a Igreja é, por meio do Magistério exercido pelos Bispos em comunhão com Santo Padre, o sucessor de São Pedro, o intérprete final e verdadeiro das Sagradas Escrituras.
A esse respeito, determina o item 85 do Catecismo da Igreja Católica: “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”. Com outras palavras, a interpretação foi confiada aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
1.11. Os Sentidos da Escritura
Em matéria de interpretação, os itens 115-117 do Catecismo da Igreja Católica, fornece-nos um interessantíssimo guia de estudo das Sagradas Escrituras, tornando extremamente proveitoso tal atividade.
O item 115 do Catecismo afirma que segundo uma antiga tradição, é possível vislumbrar nas Sagradas Escrituras, dois grandes sentidos: a) Sentido Literal; e b) Sentido Espiritual. O Sentido Espiritual por seu turno, divide-se em três subsentidos: i) Sentido espiritual alegórico ou sentido alegórico; ii) Sentido espiritual moral, ou sentido moral; iii) Sentido espiritual anagógico, ou sentido anagógico. A profunda concordância, quando consideramos o sentido literal com os três ramos do sentido espiritual, produzem uma riquíssima e melhor compreensão do texto sagrado.
1.11.1. Sentido Literal
O Sentido Literal diz respeito ao próprio texto das Escrituras. O fiel católico quando faz a leitura das Escrituras deve se esforçar para ler e compreender o texto em toda a sua completude e da forma mais completa possível, mas deve se limitar ao texto, não podendo acrescentar ou suprimir nada em relação ao texto. É preciso esclarecer que o Sentido Literal não se confunde com interpretação literal, mas compreensão do texto, segundo está escrito, é a consideração da mensagem escrita em seu todo, pois toda e qualquer compreensão a ser feita, somente será feliz se foi compreendido o texto propriamente.
1.11.2. Sentido Espiritual
O Sentido Espiritual diz respeito não ao que está escrito, mas à mensagem que o texto pretende transmitir.
Como se disse do item 117 do Catecismo, o Sentido Espiritual pode ser subdivido em três outros subsentidos ou sentidos, a saber: a) Sentido Espiritual Alegórico ou Sentido Alegórico; b) Sentido Espiritual Moral ou Sentido Moral e c) Sentido Espiritual Anagógico ou Sentido Anagógico.
a) Sentido Espiritual Alegórico
O Sentido Espiritual Alegórico permite que adquiramos uma compreensão maior dos mistérios de Deus e dos acontecimentos bíblicos, na medida em que conseguirmos vislumbrar em cada um deles, a unidade da mensagem bíblica que é Nosso Senhor Jesus Cristo e tudo que se relaciona a ele. Esse é, por exemplo, o caso do povo judeu, quando saindo do Egito, passa pelo Mar Vermelho, que os separa geográfica e definitivamente do Egito, para uma vida nova. Nesse caso, podemos ver nesse evento uma alegoria ao sacramento do batismo, que nos separa do mundo para uma vida nova em Cristo.
b) Sentido Espiritual Moral
O Sentido Espiritual Moral permite que encontremos no texto bíblico um sentido moral das ações humanas, levando-nos a um modelo de conduta nas nossas ações e nosso viver. Com outras palavras, eu devo encontrar nos textos bíblicos um conjunto de ações que orientam a minha vida no sentido de me tornar mais semelhante a Nosso Senhor Jesus Cristo.
c) Sentido Espiritual Anagógico
O Sentido Anagógico permite que vejamos no texto das Escrituras uma prefiguração daquilo que será a eternidade de nossa vida em Cristo. Assim, como exemplo, podemos dizer que a Igreja neste mundo é uma prefiguração da glória celeste. Com outras palavras, eu devo encontrar nos textos bíblicos qual a lição trazida de nossa vida futura e eterna com Deus.
1.12 A Questão da Tradução da Bíblia
O imaginário anticatólico costuma dizer que a Santa Igreja Católica impediu a difusão das Sagradas Escrituras por entre os povos, que a Igreja escondeu as Sagradas Escrituras do povo e outros erros semelhantes.
Dentre os erros piores, afirmam que foi com a Reforma Protestante e o trabalho de Martinho Lutero que a Bíblia se difundiu. Tal afirmação é reveladora de uma completa ignorância histórica e tecnológica. Como se sabe, antes do advento da imprensa de tipos móveis, por Johann Gutemberg em 1455, os livros eram escritos à mão, portanto, eram mais raros e caríssimos, e assim, uma enciclopédia como a Bíblia ocupava um espaço enorme pois era formada por inúmeros volumes. Com a imprensa de tipos móveis, foi mais fácil difundir livros escritos, e, dentre eles, claro, a Bíblia. Então, na verdade, Martinho Lutero e a Reforma não foram os difusores da Sagrada Escritura, a imprensa de tipos móveis, criada pelo católico Johann Gutemberg, foi a tecnologia que possibilitou a difusão dos livros, da Bíblia e do saber.
Então quem são os responsáveis pela dádiva da Bíblia Sagrada ao mundo?
Em primeiro lugar, a Igreja Católica, que além de compilar o Antigo e o Novo Testamentos, verteu-os para uma língua segura, mantendo a higidez do texto, e como essa língua deixou de ser usada e virou língua morta, manteve-se também a higidez linguística. Além desse trabalho, a Igreja fez por seus monges a preservação, cuidado e guarda das Escrituras.
Em segundo, lugar a imprensa inventada por Gutemberg em 1450 que permitiu que as Bíblias fossem impressas mais rapidamente e em volumes cada vez menores, podendo ser divulgadas mais rapidamente no seio das instituições e da sociedade.
1.12.1. As Traduções da Bíblia Sagrada a Partir da Vulgata de São Jerônimo [1]
O Dicionário Enciclopédico da Bíblia[1], da editora Paulus, organizado por Pierre-Mauricce Bogaeret, Mathias Delcor, Edmond Jacob, Édouard Lipinsky, Robert Martin-Achard e Joseph Ponthot, apresenta um estudo perfeito e bastante completo de todas as traduções e versões da Bíblia Sagrada desde o Texto Massorético até as principais versões e traduções do século XX. De tal completo estudo, extraímos aquelas traduções católicas principais, com o fim de demonstrar a falsidade das afirmações de que a Igreja Católica isolou a Bíblia Sagrada ao longo da história.
1.12.2. Traduções Esparsas de Missionários do Século VII
Existem notícias de traduções esparsas, de trechos bíblicos, realizadas por Missionários às Ilhas Britânicas a partir do século VII, durante e depois do papado de Gregório Magno.
1.12.3. Traduções Esparsas no Renascimento Carolíngio no Século IX
O despertar pelo interesse no ensino dos leigos e a criação de escolas durante o Renascimento Carolíngio, a partir do ano 800, levou a uma necessidade de difusão das Escrituras em outros idiomas.
1.12.4. Tradução Eslava de São Cirilo e São Metódio no Século IX
Uma das primeiras traduções das Sagradas Escrituras, após as aprovações da Vulgata Latina de São Jerônimo é a tradução realizadas por São Cirilo (?-869) e seu irmão São Metódio (826-885), missionários na região da Morávia no século IX. Com autorização do Papa Adriano II (792-872) os irmãos Cirilo e Metódio traduziram as Sagradas Escrituras para o idioma eslavo.
1.12.5. Tradução Inglesa do Século X
Na Inglaterra do século X, o monge Aelfric Eynsham inicia uma tradução do Pentateuco e do livro de Josué, seguido dos demais livros históricos, que foram mais tarde juntados aos evangelhos, já traduzidos para o inglês depois do ano 800 sob influência de Carlos Magno.
1.12.6. Traduções dos Séculos XII e XIII
Durante os séculos XII e XIII a grande influência do Renascimento Carolíngio fez surgir uma política de traduções esparsas e completas das Sagradas Escrituras, sobretudo nos países de tradição latina.
1.12.7. Traduções do Norte e do Leste da Europa nos Séculos XIV e XV
Os países do norte da Europa são despertados para o movimento de traduções bíblicas, ainda sob influência do Renascimento Carolíngio a partir do século XIV e durante o século XV. Nesse período surgem diversas traduções para os idiomas próprios do norte da Europa, seja de partes das Sagradas Escrituras, ou de edições completas do texto sagrado.
1.12.8. Traduções Alemãs do século XV
Em 1466 surge a primeira tradução das Sagradas Escrituras em alemão, editada por J. Mentelin. Até a tradução de Lutero em 1534, existiam na Alemanha 14 edições das Sagradas Escrituras em alemão, fato que destrói uma mentira de séculos, dizendo que Lutero fez a primeira tradução da Bíblia para o alemão.
1.12.9. Traduções Diversas dos Séculos XV, XVI e Seguintes
A obra citada seguirá com as versões inglesas, espanholas, francesas, holandesas, italianas, portuguesas e escandinavas dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, passando pelas versões de outros idiomas, cujo relato, de tão extenso e complexo, foge ao modesto fôlego desse trabalho.
Gabriel Campos, 07/01/2024, Solenidade da Epifania do Senhor.
[1] Em poucas páginas, segue algumas notas úteis sobre a Bíblia Sagrada que podem ser úteis para aqueles leitores novatos e estudantes que estão iniciando.
[2] PRIOTTO, Michelangelo. Introdução geral às escrituras. (Tradução Frei Ari L Pitanrelli, OFM). São Paulo: Vozes, 2019, p. 66.
[3] FIGUEIREDO, Antonio Pereira de. Nota de Introdução àBíblia Sagrada Edição do Padre Antonio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Editora das Américas, 1950, v. 1, p. 9. CHARBEL, SDB. Antônio. Introdução geral ao antigo e novo testamento. Rio Grande da Serra: Associação Cultural Christus Regnat. Juiz de Fora: Tradição, 2022, v. I, p. 31 e ss. BERGANT, Dianne. KARRIS, Robert J. (Organ.). Comentário bíblico (Tradução Barbara Theoto Lambert). 8ª Ed. São Paulo: Loyola, vol. I, p. 22. ‘
[4] Hagiógrafo: O termo “hagiógrafo”, desde o século XVIII é um termo usado para se referir aos autores dos livros sagrados, da Bíblia Sagrada. A palavra é formada pelos termos gregos AgiosV (Hágios) que significa santo, sagrado, e grafow (grafo) que significa escrita, formando a palavra Hagiógrafo para designar o escritor sagrado, e ainda, a palavra hagiografia para designar livros santos.
[5] BITTENCOURT, OSB, Dom Estêvão. Lima, Maria de Lourdes Corrêa. Curso bíblico mater Ecclesiae. 2ª Edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2016, p. 40-41.
[6] BERGANT, Dianne. KARRIS, Robert J. (Organ.). Comentário bíblico (Tradução Barbara Theoto Lambert). 8ª Ed. São Paulo: Loyola, vol. I, p. 24.
[7] MANUCCI, Valério. Bíblia palavra de deus – Curso de Introdução à sagrada escritura. (Tradução Luiz João Gaio). 4ª Ed. São Paulo: Paulus, 2008, p. 92.
[8] FIGUEIREDO, Antônio Pereira de. Bíblia Sagrada. (Tradução da Vulgata Latina Antonio Pereira de Figueiredo). Rio de Janeiro: Editora Guarabu, 1961, v. 1, prefácio, VI.
[9] DOUGLAS, J.D. (Organ.) O novo dicionário da bíblia (Traduzido por João Bentes). São Paulo: Vida Nova, 1960,1ª Ed. 5ª reimpressão, 1984, v. 1, p. 246.
[10] BITTENCOURT, OSB, Dom Estêvão. Lima, Maria de Lourdes Corrêa. Curso bíblico mater ecclesiae. 2ª Edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2016, p. 45.
[11] BITTENCOURT, OSB, Dom Estêvão. Lima, Maria de Lourdes Corrêa. Curso bíblico mater ecclesiae. 2ª Edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2016, p. 47.
[12] MANUCCI, Valério. Bíblia palavra de deus – Curso de Introdução à sagrada escritura. (Tradução Luiz João Gaio). 4ª Ed. São Paulo: Paulus, 2008, p. 85.
[13] MARGUERAT (Organ), Daniel. Novo testamento história, escritura e teologia. (Tradução Margarida Oliva). 2ª Ed. São Paulo: Loyola, 2012, p. 573. DOUGLAS, J.D. (Organ.) O novo dicionário da bíblia (Traduzido por João Bentes). São Paulo: Vida Nova, 1960,1ª Ed. 5ª reimpressão, 1984, v. 1, p. 256.
[14] GONZAGA, Waldecir. Compêndio do cânon bíblico. Rio de Janeiro: PUC/Rio, Petrópolis: Vozes, 2019, p. 28-29.
[15] GONZAGA, Waldecir. Compêndio do cânon bíblico. Rio de Janeiro: PUC/Rio, Petrópolis: Vozes, 2019, p. 67-91. DOUGLAS, J.D. (Organ.) O novo dicionário da bíblia (Traduzido por João Bentes). São Paulo: Vida Nova, 1960,1ª Ed. 5ª reimpressão, 1984, v. 1, p. 259.
[16] Quando eclodiu a Reforma Protestante, a partir de 1517, surgiu nova discussão sobre a canonicidade dos livros deuterocanônicos. O ex-monge monge e líder da Reforma, Martinho Lutero (1483-1546), contestando a Igreja Católica, preferiu adotar o cânon judaico, excluindo os livros deuterocanônicos. Nada obstante tal posição, o próprio Martinho Lutero na tradução alemã da Bíblia Sagrada, realizada em 1534, incluiu no Antigo Testamento os livros deuterocanônicos. No entanto, por volta dos séculos XVIII e XIX as sociedades bíblicas protestantes deixaram de publicar no Antigo Testamento de suas edições, os livros deuterocanônicos.
[17] BOGAERET, Pierre-Maurrice. DELCOR, Mathias. JACOB, Edmond. LIPINSKY, Édouard. MARTIN-ACHARD, Robert. PONTHOT, Joseph. Dicionário enciclopédico da Bíblia (Traduzido pelos Freis Ary E. Pintarelli e Orlando A. Bernardi). Loyola, Paulinas, Paulus e Academia Cristã: São Paulo, 2013, p. 1370-1380..
[1] BOGAERET, Pierre-Maurrice. DELCOR, Mathias. JACOB, Edmond. LIPINSKY, Édouard. MARTIN-ACHARD, Robert. PONTHOT, Joseph. Dicionário enciclopédico da Bíblia (Traduzido pelos Freis Ary E. Pintarelli e Orlando A. Bernardi). Loyola, Paulinas, Paulus e Academia Cristã: São Paulo, 2013, p. 1370-1380..