O Catecismo da Igreja Católica é uma exposição, uma síntese da fé católica, que engloba a Tradição, Escrituras e o Magistério, acrescido dos ensinamentos dos Santos Padres da Igreja e do ensinamento dos Santos.
Trata-se documento confessional de referência, oficial e autêntico, para o ensino da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, com o qual pode-se conhecer o que a igreja professa e celebra, vive e reza em seu cotidiano.
1. Etimologia do Termo Catecismo
É sempre salutar, ao estudarmos determinado tema, começarmos sua análise pela sua etimologia, pelo seu significado mais básico. Pois bem, palavra “catecismo” tem sua origem no latim catechismus, mas não é uma palavra originalmente latina, mas sim uma palavra com origem no grego ατηχισμός (Catesismós), derivado do verbo κατηχέω (Catequéu) que significa “instruir a viva voz”, pois tem em sua raiz ἦχος (Ecos)que denota um “som”.
Portanto, fica claro que existe uma perfeita conexão entre a palavra catecismo e seu significado mais profundo, conectando-se perfeitamente com o que se pretende hoje com o catecismo, que é ensinar de viva voz. Aliás, o trabalho do catequista hoje não é outro senão um ensinamento de viva voz acerca da doutrina da Igreja e de Cristo.
Seguindo esse sentido etimológico, a palavra catecismo, originalmente, era uma forma de instrução oral dos dogmas, princípios e moral do cristianismo. Portanto, originalmente, a palavra “catecismo” significava informar, instruir e ensinar de viva voz, para distinguir do ensino realizado através de livros escritos. Enquanto o ensino exclusivamente dos livros é feito individual e silenciosamente, a catequese (ou catecismo) é feita com a presença de um instrutor, ensinando a viva voz.
2. Didakè, o primeiro Catecismo
É preciso dizer que a ideia de um κατηχισμός não é uma ideia atual da Igreja contemporânea ou ainda da Igreja medieval, na verdade, remonta ao primeiro século a ideia de um catecismo na Igreja Católica.
A Didaquê ou Didaqué do grego Διδαχń (ensino, doutrina, instrução) é um documento que pode ter sido escrito entre os anos 70 e 90 de nossa era, quando ainda eram vivos boa parte dos apóstolos, pode ser considerado um primeiro catecismo da Igreja.
Bem antes da consolidação dos livros do Novo Testamento, a Didakè já continha um resumo, um núcleo instrutivo da fé cristã, realizando a função de ensinar e instruir os cristãos na doutrina dos apóstolos. Aliás, por isso a Didaqué é também chamada de Instrução dos Doze Apóstolos.
O texto da Didaquè é apócrifo, não se conhecendo os seus autores, mas dada ao seu próprio nome – Instrução dos Doze Apóstolos – e ao seu conteúdo, é bem provável que a sua confecção se deu a partir da das tradições orais dos apóstolos.
Eusébio de Cesaréia em sua História Eclesiástica que foi escrita no século III menciona a Didakè. Em 1873 foi descoberto em um mosteiro em Istambul, antiga Constantinopla, o documento chamado Codex Hierosolymitanus com um texto integral da Didakè.
3. Desenvolvimento do Catecismo
Depois da Didakè e mesmo após a compilação dos livros componentes do Novo Testamento a ideia de um Catecimso que bem e de forma ordenada expusesse a fé cristã, continuou firme na Igreja.
Podemos traçar uma breve menção do desenvolvimento dessa ideia:
- No ano 529, São Cesário de Arles, no Concílio de Vaison, em Saint-Marcellin-lès-Vaison, a necessidade imperiosa de se criarem escolas no campo para a instrução do povo;
- Por volta do ano 900, em pleno Renascimento Carolígio, foi publicado na Alemanha um livro chamado Disputatio puerorum, um diálogo escolar com função catequética, com conteúdos extraídos principalmente das obras de Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho de Hipona, São Gregório Magno, Venerável Beda e Santo Alcuíno de Iorque;
- Em 1100 o teólogo Honório de Autun, aluno de Santo Anselmo, publicou o famoso livro Elucidarium, dividido em três partes: Credo, Mal físico e moral, e Novíssimos;
- O pedagogo e cardeal Hugo de São Vitor também, por esta mesma época, publica um importante livro catequético, De quinque septenis Seu Septenariis Opusculum, largamente difundido entre o clero;
- Em 1273 Raimundo Lúlio, célebre filólogo e educador catalão, publica Doutrina Pueril dividida em duas partes: orações e instrução.
- Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão estabeleceu que em cada Catedral houvesse uma escola de gramática;
- Em 1281 o Concílio de Lambeth, realizado na Inglaterra, emitiu uma ordem para se elaborar um catecismo onde se explicasse e ensinasse os artigos de fé, o Credo dos Apóstolos, os Dez Mandamentos, as sete obras da misericórdia corporais e espirituais, os sete pecados capitais, as sete virtudes e os sete sacramentos.
- No século XIII, Santo Tomás de Aquino, em 1256, expôs em cinco opúsculos separados (1) o Símbolo, (2) o Pai-Nosso, (3) a Saudação Angélica, (4) o Decálogo (5) e os Sacramentos;
- Em 1400, Jean Gerson, padre chanceler da Universidade de Paris conhecido como Doutor Cristianíssimo, foi o primeiro a sugerir a elaboração de um resumo da doutrina cristã, destinado a crianças e pessoas simples, que dificilmente tinham oportunidade de ouvir um bom sermão.
- Em 1509 1509, apareceu em Colônia um opúsculo anônimo, intitulado Fundamentum aeternae felicitatis, verdadeiro catecismo que trata do Símbolo, Pai-Nosso, pecados capitais, pecados de cooperação, Sacramentos, dons do Espírito Santo, obras de misericórdia, bem-aventuranças, novíssimos, graça e virtude, pecados contra o Espírito Santo. Sem terem formalmente o nome de catecismo, existiam, em latim e em vulgar, ainda outros manuais que expunham os artigos principais da fé em linguagem acessível e bastante popular
- No século XIII, Santo Tomás de Aquino, em 1256, expôs em cinco opúsculos separados (1) o Símbolo, (2) o Pai-Nosso, (3) a Saudação Angélica, (4) o Decálogo (5) e os Sacramentos;
- Com a Reforma Protestante, veio a resposta católica por meio do Concílio de Trento (1545 – 1563), quando então a temática do catecismo ganhou novo fôlego e urgência. O Catecismo Romano, também chamado de Catecismo do Concílio de Trento, ou ainda, Catecismo de Pio V, foi publicado em 1566, como resultado do santo Concílio;
- Ainda no século XVI, em 1597, foi publicado por São Roberto Bellarmino um Catecismo em forma de perguntas e respostas;
- O Papa São Pio X elaborou o seu Catecismo Maior inspirado na obra de São Roberto Belarmino.
4. Catecismos Protestantes
Por ocasião da Reforma, os protestantes Andreas Althamer e Martinho Lutero escreveram catecismos, respectivamente em 1528 e 1529,com o mesmo fim, instruir os seus seguidores, conforme a sua doutrina.
Aliás, cumpre salientar que os protestantes foram muito inteligentes nesse sentido, lançando mão dessa criação católica, para popularizar os seus ensinos. Os mais importantes catecismos de teologia protestantes são: o Catecismo Maior e o Catecismo Menor de Martinho Lutero; o Catecismo de Genebra (1537 e 1542) de João Calvino; o Catecismo de Heidelberg (1563), de teor mais ecumênico; e o Catecismo Maior e Breve Catecismo de Westminster (da Assembleia de Westminster em 1643-1649).
Atualmente as denominações protestantes têm relegado a um segundo plano a ideia de um catecismo.
A Igreja Católica já teve diversos catecismos, sendo o atual publicado em 2003, um fruto direto do Concílio Vaticano II que foi manifestado pelo Sínodo dos Bispos por ocasião da comemoração dos vinte anos de encerramento do Concílio Vaticano II, em 1985.
Assim, em atenção a esses reclamos o Papa São João Paulo II em 1986 instituiu uma comissão de 12 (doze) cardeais e bispos, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, para prepararem um projeto de Catecismo.
Concluída a missão o projeto de Catecismo foi submetido a ampla e vasta consulta de todos os Bispos católicos, suas Conferências Episcopais ou dos seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética.
O novo Catecismo não discorda dos textos de Catecismos passados, antes, os incorpora, trazendo coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma. Assim, buscou-se uma harmonização perfeita entre a Tradição, Escrituras e Magistério e com o Catecismo de São Pio V, vigente desde o século XVI, sem também deixar de lado a necessidade de expressão de um modo novo para responder às questões de nossa época.
O Catecismo é um presente da Igreja para o fiel leigo, sem formação filosófica e teológica. Com efeito, por essa razão o Catecismo deve ser simples em sua exposição, didático em sua organização sem perder a profundidade do seu conteúdo. Obedecendo a esses ditames, o Catecismo terá cumprido bem o seu papel.
O atual Catecismo realiza tal missão com perfeição.
5. Divisão do Conteúdo do Catecismo de 1992
O atual Catecismo da Igreja Católica está assim dividido:
- A profissão de Fé, conforme está contida no Credo dos Apóstolos;
- A celebração do Mistério Cristão, que é a liturgia;
- A vida em Cristo, com a exposição dos Dez Mandamentos;
- A Oração Cristã, tendo o Pai Nosso como modelo.
6. Conclusão
É de fundamental importância conhecer o Catecismo da Igreja Católica. A sua leitura é fluida, suave, profunda e ao mesmo tempo bastante acessível a qualquer pessoa. Com a leitura do Catecismo o fiel católico tem acesso a uma base acerca da fé, dos ensinamentos das Escrituras e da Igreja Católica.
Gabriel Campos
7 de dezembro de 2021
Memória de Santo Ambrósio de Milão, Bispo e Doutor da Igreja.